quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Combustíveis fósseis: os vilões da matriz energética mundial? Parte I

Sem dúvida o assunto de combustíveis fósseis é um tema de ampla abrangência e complexidade, sobre o qual muitos enfoques podem ser dados. Neste post serão abordados apenas alguns pontos, para incentivar o leitor a reflexão e (talvez) revisão de alguns conceitos.
O combustível denominado "fóssil" pode ser definido como um "depósito de hidrocarbonetos, como petróleo, carvão mineral e gás natural, derivado dos restos (fósseis) acumulados de antigas plantas e animais, utilizado como combustível".(The American Heritage Science Dictionary).
Esta definição é um pouco simplista no que tange ao modo como se formam estas substâncias. Na verdade, a mera deposição ou acúmulo de restos de plantas e animais não produz em si petróleo, carvão mineral ou gás natural. Ao menos não na forma em que são empregados como recursos energéticos. A verdade é que as condições a que estes resíduos são submetidos (temperatura, pressão, pH, tempo de residência, agentes catalíticos, etc) lhes conferem suas características peculiares. E é também por isso que há diferentes composições de petróleo, carvão mineral e gás natural, de acordo com as condições a que estavam submetidos nos diferentes locais onde se encontravam.
Em realidade, o termo "combustível" é limitado para descrever este amplo conjunto de compostos orgânicos, cujo ponto em comum é sua origem. O petróleo, por exemplo, é matéria prima na fabricação de plásticos, borrachas sintéticas, solventes e uma série de outros produtos que se destinam a fins diversos que não a combustão. O carvão mineral, por outro lado, é muitas vezes utilizado sob a forma de coque para a têmpera do aço industrial, conferindo-lhe características mecânicas e fisico-químicas peculiares. E até mesmo o gás natural, composto consideravelmente mais simples, é utilzado em algumas aplicações como matéria prima.
Por que se diz que estes combustíveis fósseis são recursos finitos, ou esgotáveis? Afinal, o processo de crescimento, morte e decomposição animal e vegetal, bem como a sedimentação e deposição destes resíduos no subsolo - que gerariam as condições de produção dos combustíveis fósseis - são processos contínuos!
A questão pode ser respondida com um balanço material global.
De fato, os combustíveis fósseis são chamados de "fontes não renováveis de energia", e seu ciclo, de "ciclo aberto", porque a taxa de produção destas substâncias - e por "produção" entenda-se sua formação no subsolo - é de uma ordem de grandeza incomparavelmente inferior a taxa de extração e consumo. Enquanto as "energias renováveis" de "ciclo fechado", como biocombustíveis, possuem um tempo de reposição da ordem de meses, os ciclos completos do carbono de origem fóssil seriam fechados após séculos. (Veja o site breve história do petróleo, do prof. Luís Carlos Gomes Domingos, do Departamento de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra).
Aliado a isso, há evidências que a quantidade relativamente grande de reservas destas substâncias que existem na época atual, se deve a alguns eventos extraordinários que ocorreram em eras geológicas passadas, fazendo com que grandes quantidades de "matéria prima" para os combustíveis fósseis - restos de animais e vegetais - fossem soterrados e sedimentados quase simultaneamente. Ou seja, a taxa média de produção destes materiais seria ainda menor que aquela que produziu as reservas das quais hoje o homem beneficia-se.
Portanto, por que os combustíveis fósseis respondem ainda por mais de 80% da matriz energética mundial? (Fonte: IEA - International Energy Agency). Este será um assunto para um post futuro.

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