No último post, dissertou-se acerca do motivo pelo qual o preço da gasolina está, no Brasil, atrelado ao preço do etanol. Pretende-se agora abordar os aspectos técnico-econômicos que influenciam no preço do etanol no Brasil.
Um interessante ponto de partida é o artigo "Álcool combustível e biodiesel no Brasil: quo vadis?", dos profs. Drs. Paulillo, Vian, Shikida e Msc. de Mello. Alguns trechos retirados do artigo:
" O álcool...é hoje a principal bioenergia utilizada no mundo. Entre 2000 e 2004, sua produção mundial cresceu 46,8%, quando atingiu 41 bilhões de litros, dos quais quase 73% foram usados como combustível."; " Com uma demanda interna de 13 bilhões de litros, o mercado americano de álcool foi o que mais cresceu nos últimos anos, em função da substituição do MTBE (metil tércio butil éter) pelo bioetanol como oxigenador da gasolina em vários estados."; " O Brasil, líder na produção e consumo de álcool, teve na safra 2006/07 uma produção recorde de 17,7 bilhões de litros, dos quais 80% foram destinados ao mercado interno e 20% ao externo. O crescimento atual assenta-se, mormente, nas vendas de veículos flexíveis (bicombustíveis)."
Levando-se em conta que o estudo foi publicado em 2007 - e, portanto, anterior a atual elevação do preço do etanol -, é significativo que a seguinte afirmação já se fazia presente nas considerações finais: "Contudo, talvez um dos maiores desafios da cadeia brasileira do álcool seja apurar, exatamente, as dimensões do mercado mundial de combustíveis e, a partir daí, viabilizar um planejamento estratégico de expansão da oferta de cana-de-açúcar e álcool para o futuro."
A incapacidade da produção e processamento de cana-de-açúcar acompanhar o crescimento da demanda é um dos principais fatores da elevação do preço do etanol para o consumidor final. Também segundo a Rede bom dia, do Diário de São Paulo, citando o presidente do Sincopetro, Roberto Uehara, a já tradicional época da entressafra, que coincide com a alta da demanda de combustível, nos meses de dezembro a abril, foi agravada pela vantagem econômica de exportar o açúcar de cana brasileiro para o Oriente Médio, com margens de lucro atrativas.
Outro fator a ser levado em conta é o constante aumento das vendas de veículos novos. Conforme artigo do jornal Correio do Brasil, citando dados da Fenabrave, houve um aumento de 6,28% nas unidades comercializadas no primeiro trimestre de 2011, frente ao mesmo período de 2010.
Por fim, o boletim mensal de energias renováveis do ministério de minas e energia, de março de 2011, acusa um incremento nas exportações de etanol.
Estes são os fatos geradores apontados como os principais causadores da alta no preço dos combustíveis no segundo trimestre de 2011. Da análise destes aspectos, deriva-se a conclusão que é possível e provável que a situação venha a se repetir no próximo período de entressafra, uma vez que o aumento da produção ocorre num ritimo menor que o incremento da demanda, aliado ainda a competição do etanol com os demais usos da cana-de-açúcar.
Que medida poderia ser tomada para contornar o problema? Segundo o presidente executivo do Sindicom, Alísio Vaz, o planejamento de estoques de etanol, e a cobrança da celebração de contratos de longo prazo entre produtores de etanol e distribuidores de combustível, por parte da ANP, seriam medidas adequadas para o combate à sazonalidade do preço do etanol combustível para o consumidor final.
Sim, o problema da produção de etanol no Brasil é, além de ser fortemente sazonal, de competir diretamente com a produção de açúcar. Do ponto de vista do dono da usina, é mais vantajoso exportar açúcar a produzir etanol para o mercado interno.
ResponderExcluirMas tem um detalhe que, em geral, passa despercebido nestas horas de alta no preço do álcool. Os usineiros MUITO provavelmente receberam empréstimos do governo federal para construção/compra de suas usinas. Em se tratando de uma questão de segurança energética nacional, o empréstimo deveria ser concedido com uma condição adicional: de que uma certa porcentagem da produção (não necessariamente a sua totalidade) DEVA ser de etanol, voltada para o mercado INTERNO.
Talvez alguns até vejam isto como uma espécie de "anti-subsídio", mas a meu ver é parte da solução do problema.